sábado, 8 de setembro de 2018

América do Sul, uma Terra Dedicada - parte 1

A América do Sul e o Evangelho na Antiguidade


Apresentação e introdução
Meu propósito em investigar e escrever sobre a História d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias na América do Sul iniciou-se quando eu era um jovem missionário de tempo integral na Missão Argentina Córdoba.
Em realidade, sempre tive em mim um grande entusiasmo por conhecer a História, e em especial pela História da Igreja. Li, antes da missão – sim, ainda em minha adolescência – alguns livros, começando com A História da Igreja na Plenitude dos Tempos.
Contudo, quando eu estava me preparando para a Missão o Presidente do Templo do Recife era Frederick G. Williams. Eu vi bastantes vezes no Templo, nas Conferências de Estaca (minha Estaca está a 30 minutos do Templo) e em Serões e Aulas especiais no Instituto, para o que ele e a Sister Williams eram convidados. Como eu frequentava muito o batistério, sempre o via dar uma mensagem para os jovens na abertura das sessões.
E, no dia em que eu fui ao Templo receber a investidura, tive o prazer de ser instruído por ele. Ele me perguntou onde eu serviria, e quando eu disse que seria na Missão Argentina Córdoba ele ficou enormemente feliz – abriu aquele sorriso largo que lhe é próprio, e disse ah, entonces va a hablar el castellano. Ele me disse ainda que seu pai foi Missionário e Presidente de Missão na Argentina, mas não me falou muito mais naquele momento – tínhamos outras coisas para conversar.
Fui para o CTM e, antes de ir para a missão, mandei para minha mãe um envelope com muitas cartas, para ela e outras pessoas, incluindo uma que eu pedi que ela entregasse ao Presidente Williams. Ele gentilmente me respondeu, e cito aqui um trecho do que ele me escreveu, estando a carta completa em anexo.
Meu pai, Frederick S. Williams, foi um dos primeiros missionários em toda a América do Sul. Serviu em Buenos Aires, Argentina de 1927-1929. Ao término de sua missão só havia três missionários em todo o continente: dois na Argentina e um no Brasil. Seu presidente lhe pediu que ao regressar aos Estados Unidos ficasse um tempo em Joinville, Santa Catarina para que o Elder Schindler tivesse um companheiro, e assim foi. Meu pai foi um dos poucos missionários que trabalharam nos dois distritos da missão: Argentina e Brasil. Meu pai regressou à Argentina para servir como o segundo presidente da missão (1938-1942); meu pai abriu a obra em Córdoba. Eu nascí em Buenos Aires. Geralmente, quando me perguntam porque nasci na Argentina, eu explico que nessa época eu era muito pequeno e queria estar perto de minha mãe ao nascer, e ela estava na Argentina. Por tanto, nasci lá. Fui registrado na embaixada americana como cidadão americano e saí do país com dois anos de idade quando meus pais e minhas três irmãs regressaram aos E.U.A. Dez anos depois meu pai foi chamado para abrir a primeira missão no Uruguai. Assim tive o privilégio de aprender o castelhano em Montevideo. Esta informação e mais detalhes se encontram no livro que eu e meu pai escrevemos chamado From Acorn to Oak Tree A Personal History of the Establihshment and First Quarter Century Development of the South American Missions (1987). Quando cresci, eu servi minha missão no Brasil e aprendi a falar português.

Assim comecei a dedicar meus pensamentos e minha atenção mais e mais para a História da Igreja na América do Sul, uma história rica e maravilhosa, cheia de particularidades e curiosidades.
Ainda em minha missão, um membro da Igreja mostrou a mim e a meus companheiros um parte de sua biblioteca do Evangelho. Entre os livros havia um chamado Historia de los Mormones em Argentina, de Nestor Curbelo, historiador da Igreja, uruguaio. O irmão Sergio Torres me emprestou o livro por uma semana, e não me contive – fiz uma cópia xerocada para mim.
E, quando voltei da missão, de quando em quando eu voltava a ler e pesquisar sobre esses assuntos. Entre as fontes principais estão, além dos livros já citados, as páginas oficiais da Igreja nas Áreas Brasil, América do Sul Sul, e América do Sul Noroeste, além de outras fontes oficiais da Igreja. Publicações m blogs feitos por membros da Igreja também foram consultados, e devidamente citados.
Por isso decidi escrever uma serie de artigo, contando uma parte da História da Igreja na América do Sul. É o resultado de uma pesquisa feita com amor e fé Naquele que é o Senhor e Salvador da América do Sul e de seu povo.

O surgimento da América do Sul e as antigas profecias sobre o Subcontinente Sul-americano
A chegada do evangelho restaurado na América do Sul tem sido profetizada desde a época do Livro de Mórmon, e desde o início desta dispensação o envio de missionários a este subcontinente foi uma das metas mais importantes da Igreja.
Recapitularemos, então, algumas das profecias e dos ensinamentos doutrinariamente mais importantes a esse respeito, para que possamos compreender melhor a relevância da ordenança dedicatória de 1925.

Toda a terra é criação e propriedade de nosso Pai Celestial e de Jesus Cristo, e Eles a criaram para propósitos específicos, como podemos ver nos registros do patriarca Abraão (3: 24-25):
Desceremos, pois há espaço lá, e tomaremos destes materiais, e faremos uma terra onde estes possam habitar;
E assim os provaremos para ver se farão todas as coisas que o Senhor seu Deus lhes ordenar;
Assim vemos que esta terra foi criada para ser o lugar em que nós, filhos do Altíssimo, pudéssemos mostrar a Ele que O obedeceríamos em todas as coisas.
No entanto, a terra por Eles criada “era boa” – um verdadeiro paraíso, incapaz de permitir a Adão e Eva – e a todos nós – provar fidelidade a nosso Pai.
Somente com o evento conhecido como “a Queda”, esta terra tornou-se – a pesar de haver decaído de um estado paradisíaco a um estado terrenal – um ambiente capaz de nos proporcionar todas as experiências de que necessitamos para atingir o máximo de nosso potencial.
Para tão sagrado propósito, a própria terra tem passado por um longo e ainda não terminado processo de redenção. É necessário, portanto, que a própria terra seja redimida.
Um dos eventos mais significativos desse processo foi a purificação da terra ocorrida sob a presidência do patriarca Noé (evento conhecido como “o Dilúvio”), no qual a terra foi inteiramente coberta pelas águas. Ao recuarem as águas, dividiu-se a terra, fazendo-se destacar o continente hoje chamado “Americano”.
Segundo o relato do Gênesis (10: 25), essa divisão não ocorreu imediatamente após o recuo das águas, mas sim nos dias de Pelegue, filho do patriarca Éber.
É particularmente interessante observar as profecias feitas por Éter – último profeta e historiador do povo jaredita, o primeiro a habitar o Novo Continente. De suas palavras, destaco as seguintes (Éter 13: 2-3):
depois de haverem as águas recuado da face desta terra, ela tornou-se uma terra escolhida entre todas as outras, uma terra escolhida do Senhor. Portanto, o Senhor deseja que o sirvam todos os homens que nela habitarem.
E que ela era o lugar da Nova Jerusalém, que desceria do céu, e o sagrado santuário do Senhor.
Impactantes palavras. É importante notar que os jareditas, já em sua dispensação, tinham conhecimento dos fatos relativos à futura condição das Américas. E que, além de o povo conhecer tais fatos, seus profetas davam especial destaque a eles, tendo o próprio Éter incluído comentários este assunto em seus últimos sermões.
Tais informações foram, ainda, consideradas sumamente relevantes pelo profeta Morôni, já que, da tradução dos registros jareditas, apenas um resumo feito pelo próprio Morôni foi disponibilizado para nós. Seguramente este profeta, caso pudesse, nos teria brindado mais informações. No entanto, foi proibido pelo Senhor de fazê-lo (Éter 13: 13), sendo-lhe permitido tão somente deixar-nos cientes apenas das mais importantes profecias de Éter, dentre as quais se encontram aquelas referentes a este precioso e promissor continente. O mesmo ocorreu com os povos nefitas, como já descrevemos, na primeira parte desta série.
O impacto dessas profecias foi tão grande na mente dos povos americanos que sobreviveu, mesmo em meio à apostasia, nas tradições orais das tribos indígenas sul-americanas. Isso porque, diferentemente dos índios da América do Norte e Central, os do Sul não tem muitos registros físicos, quase toda sua tradição é repassada oralmente de geração em geração.
 Um belo exemplo disto é o relato da irmã María Graciela Llaipén de Colivoro, membro da Igreja na cidade de Comodoro Rivadavia (Argentina). Nascida na ilha de Chiloé (Chile), é filha de índios Mapuche. Ela conta que, em sua infância, seu pai lhe ensinou sobre a origem de seu povo, e sobre sua crença no Deus vivo. Em suas palavras:
Meu pai nos contava coisas de Deus, ele sabia ler e escrever, conhecia as quatro operações. Nessa época nos aconselhavam e nos diziam que ia haver um Deus, mas que nesse tempo nós não O tínhamos. Ele nos dizia ‘vamos ter um Deus dentro de uns anos’. Meu pai me dizia que ia haver santos pregando e que ia haver um homem a quem Deus ia dar poder para pregar na terra.
Nos dizia que em um tempo eles foram de Deus, mas foram deixados porque não O obedeceram, mas com o tempo ia voltar para devolver-lhes tudo o que lhes tinha tirado. Isso nos dizia ele, a história do Livro de Mórmon quando a li me ajudou a compreender o que meu pai me falava quando eu era pequena.
Ele me dizia que com o tempo iam andar os santos pregando o evangelho na terra. Essa é a lembrança mais linda que tenho de meu pai. Também me disse que eu tinha que aceita-lo e ensiná-lo a meus filhos e dizer-lhes que Deus existe.
Isto é tudo o que recordo de meu pai, de todos meus irmãos, eu fui a única que compreendi essa mensagem e a segui ao conhecer a Igreja. A história de onde eu nasci a recordo quase como um sonho.[1]
Várias outras tribos, como a Nivaclé, do Paraguai, mantiveram por séculos a história narrada no Livro de Mórmon em sua tradição oral:
Em 1980, uma tribo nativa de Nivaclé de 200 pessoas, se converteu ao evangelho quando os missionários lhes contaram a história do Salvador quando veio às Américas. O líder da tribo reconheceu a história porque havia sido transmitida por seus ancestrais e soube que estava escutando verdades restauradas.
Atualmente, essa tribo tem uma comunidade de 40 famílias SUD e deram a sua povoação o nome de Abundância.[2]

E assim vemos que esta terra é uma parte especial da Criação do Senhor, que Ele a preservou e separou das demais para propósitos sagrados, que há várias profecias a respeito da pregação do evangelho e do estabelecimento da Igreja neste subcontinente, sobretudo o Livro de Mórmon, e que os povos que aqui habitaram antes da chegada dos europeus compartilhavam, em sua tradição oral, profecias referentes ao estabelecimento da Igreja de Jesus Cristo nesta terra sagrada.

Versión en español disponible en: https://volveraelcorazon.blogspot.com/2018/09/sudamerica-una-tierra-dedicada-parte-1.html?m=1



[1] El Legado Mapuche, tradiciones orales ancestrales contribuyen a la conversión, Néstor Curbelo. Tradução livre do autor. Disponível em: https://www.mormonesdelsur.org/el-legado-mapuche-tradiciones-orales-ancestrales-contribuyen-a-la-conversion
[2] Una tribu en Paraguay conocía las historias del Libro de Mormón antes de que llegaran los misioneros. Tradução livre. Disponível em: https://mormonsud.org/creencias-mormonas/libro-de-mormon/tribu-de-paraguay-conocia-historias-del-libro-de-mormon/ Original em inglês: Tribe Knew Book of Mormon Stories Before Missionaries Arrived + 4 More Facts About the Church in Paraguay. Disponível em: http://www.ldsliving.com/Tribe-Knew-Book-of-Mormon-Stories-Before-Missionaries-Arrived-4-More-Facts-About-the-Church-in-Paraguay/s/78258

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